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3 – JUSTIFICATIVA

24-01-2011 00:28

  

3 – JUSTIFICATIVA

 

Do ponto de vista teórico esse trabalho enquadra-se na perspectiva do encontro da educação com a cidadania cultural e do reconhecimento das noções de pertencimento, memória e identidade.

Atualmente, quando nos referimos a “cidadão”, pensamos sempre nos momentos simbólicos e exemplares em que o conteúdo político da palavra teria sido vivido intensamente: a democracia grega, a revolução francesa, a redemocratização da década de 1980 no Brasil. Ou seja, pensamos naquilo que pode definir um indivíduo na medida em que ele se entende como sujeito de direitos que compartilha com os demais na comunidade política.

Segundo Arantes,

“As discussões sobre cidadania na agenda política e intelectual contemporânea aprofundam o tema em pelo menos três dimensões. Por um lado, os associam as novas esferas de reivindicações, tais como as diferenças culturais e políticas no interior dos estados nacionais e seus aspectos territoriais, a sexualidade a reprodução humana e o meio ambiente. Por outro, tendem a vinculá-lo a estilos políticos mais participativos e mais transparentes, avanço que se deve a consolidação dos “novos” movimentos sociais. E além disso, põe em relevo assuntos como o direito a informação e o acesso aos bens simbólicos que imediatamente remetem à comunicação social, ao mercado e a interpenetração das esferas publica e privada.” (1992, p.9)

 

Cidadão e comunidade não se definem, portanto, por parâmetros de território, há outros vínculos que constituem a cidadania e a comunidade, que podem ser entendidos como laços éticos, históricos, políticos que se tornam progressivamente mais fortes à medida que se vão consolidando. Tudo isso se expressa  em várias ordens de representação, que vão desde os costumes no nível da cidadania até as manifestações artísticas singulares. Trata-se de uma experiência peculiar de habitar o mundo, à qual chamamos cultura.

 

“Uma experiência real de cidadania só pode acontecer no âmbito de uma comunidade real, aquela que faz uma experiência efetiva de si mesma e da sua cultura, e em que todos os cidadãos tenham a oportunidade de se reconhecerem como participantes ativos da vida cultural, entendida como um processo de afirmação e emancipação dos indivíduos e da comunidade. Nesse sentido e principalmente em nosso país, cidadania cultural é um projeto cuja realização se situa no horizonte de uma luta a ser travada em vários níveis e por diferentes tipos de movimentos sociais que têm em comum a contestação da segregação, da desigualdade e da injustiça”. (F.L. Silva, Disponível em: https://proesq.institucional.ws/psicoeducacao/tabid/192/Default.aspx)

 

Ao fortalecermos os laços criados nesse tipo de ação fortaleceremos as expectativas de uma experiência cultural alicerçada nos critérios de cidadania e comunidade, pois a cultura viva se alimenta de relações dinâmicas que se dão entre essas duas instâncias. Nesse sentido, a inclusão social, pode revelar as autênticas aspirações das comunidades e deve ser considerada uma das mais legítimas reivindicações de resgate histórico e de justiça social.

            Partindo da relação entre cidadania e cultura é possível traçar alguns outros aspectos relevantes a esse trabalho. O primeiro é a noção de identidade muito discutida nos tempos atuais. Ao falar de identidade e relacioná-la com a cultura podemos apreendê-la a identidade cultural como um conjunto vivo de relações sociais e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados e que estabelecem a comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade. Este é um conceito de intenso cambio e de grade complexidade, podemos compreender a constituição de uma identidade em manifestações que podem envolver um amplo número de situações que vão desde a fala até a participação em certos eventos.

Segundo Stuart Hall “dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de modo que nossas identidades estão sendo continuamente deslocadas.” (2006, p.13) Assim, a identidade local vive em intensa disputa, enfrentamento, conjunção, apropriação com outras identidades exteriores, gerais, globais.

Os meios e as tecnologias de informação e comunicação se encarregam de fazer esse intercambio entre esses mundos (local e global) que agora são um só. Disputando a centralidade do sujeito, que muitas vezes passa a identificar-se mais com espaços e culturas estrangeiras a sua realidade próxima, num intercâmbio que muitas vezes é prejudicial, pois não leva em conta sua origem, seu local de partida. Num processo que Ecléia Bosi chama de dezenraizamento do sujeito, onde o sujeito muitas vezes não consegue se sentir integrante da comunidade com qual a qual convive. (2000, p.19-20)

            Com esse projeto pretendemos restaurar as noções de pertencimento a comunidade local, que rodeia as escolas. De valorização do patrimônio material e imaterial que as circula. Num movimento de centramento do sujeito, de percepção do estar no mundo. Valorizando o sentimento de pertencimento, a memória local, e a identidade local. Ressignificada a partir da ação e da pesquisa conjunta entre escola, comunidade e pesquisadores. 

            Do ponto de vista prático este projeto de intervenção justifica-se de tal forma que haverá uma complementaridade de interesses entre o conhecimento acadêmico cientifico, urgências internas à Secretaria de Estado da Educação e comunidades registradas.

Após a produção do documentário será ampliada a munição de dados a serem posteriormente analisados em trabalhos acadêmicos, utilizados em exposições e planos de aula dos mais diversos tipos. Basta para isto mencionar que no plano de produção levantaremos características relevantes da geografia, bioma e história do Colégio e sua comunidade.

A secretaria da Educação do Estado de Goiás em breve colocará no ar seu portal na Internet. Tal portal terá suporte para hospedar os sites das Escolas que já os tem. É fato inegável que a mesma secretaria necessitará de material audiovisual para divulgar sobre suas Escolas.

Já fazemos, na atualidade, produções para a Coordenação do Ensino Médio no que se refere à Ressignificação do Ensino Médio, Diversidade e Cidadania e as produções deste projeto seriam uma ampliação do mesmo trabalho.

Os vídeos produzidos serão disponibilizados para os professores elaborarem seus planos de aula.

No tocante a comunidade documentada, pelo projeto, será criada condições para registrar e divulgar características da cultura local. Na construção do Backing Ground ou trilha sonora das produções prestigiaremos os músicos locais. Na composição visual utilizaremos imagens das construções, ruas, praças, feiras, festas, igrejas, monumentos e as artes plásticas produzidas na região. Isto dará a merecida importância ao plano arquitetônico, paisagístico e aos atores da cultura de tal comunidade.

O registro audiovisual permitirá, ao longo do tempo, que a comunidade observe a dinâmica de sua própria cultura e qualificará positivamente sua noção de pertencimento e cidadania.

Os cursos de capacitação em mídias e produção que o projeto oferecerá atendem as prerrogativas constitucionais e as do Artigo 27º da Declaração Universal Dos Direitos Humanos “...toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam...”. Somam-se a este os artigos da Constituição, a LDB e o PCN no que diz respeito aos direitos básicos da educação e o acesso às novas tecnologias digitais.